A Voz do Bom Pastor no Silêncio do Carmelo

2º Domingo depois da
Páscoa
4 de maio de 2025
📖 Proclamação do
Evangelho Segundo São João 10, 11-16 — (Tradução do Pe. Matos Soares) Naquele
tempo: Disse Jesus aos fariseus: Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua
vida pelas suas ovelhas. Porém o mercenário e o que não é pastor, de quem não são
propriedade as ovelhas, vê vir o lobo, deixa as ovelhas, e foge; e o lobo
arrebata e dissipa as ovelhas. O mercenário foge porque é mercenário, e porque não
se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor, e conheço as minhas ovelhas, e
as que são minhas Me conhecem. Assim como o Pai Me conhece, Eu conheço o Pai; e
dou minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho também outras ovelhas que não são deste
aprisco; e importa que Eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só
rebanho e um só pastor.
🕯️ Meditação Carmelita
No coração do Carmelo, a voz do Bom Pastor não ressoa nos grandes palcos, mas no santuário escondido da alma. O Carmelo é a escola do silêncio, onde a alma aprende não a falar muito, mas a escutar muito. O Bom Pastor não grita. Ele chama. E a alma carmelita, formada na escola da oração, reconhece essa voz, mesmo em meio às trevas. Santa Teresa d’Ávila, mestra da vida interior, ensinava: “Basta uma palavra de Deus para calar todas as vozes do mundo.” (Livro da Vida, cap. 25) No recolhimento da cela interior, o carmelita aprende a distinguir a voz suave do Esposo, que conduz com doçura, mas também com firmeza. São João da Cruz, grande doutor do amor oculto, escreve: “A alma, no silêncio, ouve mais claramente o que o Esposo quer dela.” (Ditos de Luz e Amor, n. 58)
O Carmelo não é uma multidão de vozes, mas uma única escuta: a do Esposo que chama pelo nome. O Bom Pastor conhece cada alma, chama-a pelo seu verdadeiro nome — aquele que não é conhecido na terra, mas é escrito no céu (cf. Ap 2, 17). Por isso, a vocação carmelita não é produção, nem agitação: é resposta. É dizer: “Eis-me aqui, Senhor, fala, que Teu servo escuta.” (cf. 1 Sm 3,10) Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), que entregou sua vida como hóstia de amor, meditou: “Cristo é a Verdade encarnada, e a alma que O ama seguirá a Verdade mesmo quando ela a conduzir à Cruz.” (Obras Completas, vol. 1) O Carmelo, como redil escondido, é o lugar onde o Bom Pastor guarda Suas ovelhas mais frágeis, aquelas que o mundo esqueceu, mas que Deus carrega no peito.
Hoje, recordamos também o ensinamento do Papa Francisco, que na Solenidade do Bom Pastor nos lembrou: “O estilo de Jesus é a mansidão, a humildade e a ternura. É a voz que penetra no coração e o aquece.” (Homilia - Domingo do Bom Pastor, 25/04/2021) O Carmelo não busca ser forte aos olhos do mundo, mas forte na escuta amorosa. É no silêncio que o Pastor fala. É no escondimento que Ele guia. É no sofrimento aceito em amor que Ele purifica e leva ao Coração do Pai. Santa Elisabeth da Trindade, flor escondida do Carmelo, resumiu a vida carmelita dizendo: “Que cada batida do meu coração seja um ato de amor.” (Últimos Escritos, 1906)
E no final desta peregrinação
silenciosa, no dia em que o Bom Pastor chamar pelo nome, a alma carmelita,
pequenina e oculta, responderá com alegria: “Conheço a voz do meu Pastor. Segui-O
na escuridão. Agora, vejo-O na luz.” Que neste Domingo do Bom Pastor, o
Altare Carmelus se una ao Redil de Cristo. Que cada alma entregue neste altar
secreto possa ouvir, no mais profundo de seu ser: “Eu sou o Bom Pastor. Eu
dou a minha vida por ti.” (cf. Jo 10, 11)
📚 Referências Bibliográficas
- Santa Teresa d’Ávila, Livro da Vida.
- São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor.
- Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), Obras Completas.
- Santa Elisabeth da Trindade, Últimos Escritos.
- Papa Francisco, Homilia no Domingo do Bom Pastor (25 de abril de 2021).