Gerados pela Palavra, sustentados pela confiança: a oração dos pequenos que tocam o coração do Pai
5º Domingo depois da páscoa25 de maio de 2025
🕊️ Introdução
A Liturgia do V Domingo depois da Páscoa nos abre uma porta
luminosa: a oração, quando nascida da fé no Filho, toca o Coração do Pai. A
promessa de Jesus no Evangelho — “Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome,
Ele vo-la dará” — não é um cheque em branco, mas uma convocação à infância
espiritual, ao abandono confiante, à união silenciosa com a Divina Vontade.
Tiago, na Epístola, diz que fomos “gerados pela Palavra
da verdade como primícias de suas criaturas”. Eis o fundamento da nossa
oração: somos filhos gerados por Deus, sustentados por Sua Palavra viva, e
chamados a orar como filhos pequenos, não como mercenários da graça.
No Carmelo, essa verdade se encarna com força. Santa
Teresinha nos ensina que a confiança move montanhas — mas montanhas interiores,
aquelas que impedem o amor de Deus de nos alcançar. Santa Teresa Margarida Redi
viveu escondida no Coração de Jesus com tal abandono que sua vida inteira foi
uma única súplica silenciosa. E Santa Elisabete da Trindade nos lembra que a
Palavra de Deus não é apenas ouvida — é habitada.
A oração do Carmelo é assim: gerada no silêncio da Palavra,
sustentada pela confiança dos pequenos. Não é técnica, nem fórmula, nem
discurso. É presença amada que toca o Infinito com mãos vazias.
Evangelho do V Domingo depois da Páscoa
📜João 16, 23-30
(locução do Evangelho segundo a tradução litúrgica de 1957)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Em verdade,
em verdade vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la
dará. Até agora nada pedistes em meu nome: pedi e recebereis, para que a vossa
alegria seja completa. Disse-vos estas coisas em parábolas. Vem a hora em que
não vos falarei mais em parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai. Naquele
dia pedireis em meu nome, e não vos digo que rogarei ao Pai por vós: pois o
próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus. Saí do
Pai e vim ao mundo; novamente deixo o mundo e vou para o Pai.” Disseram-lhe os
seus discípulos: “Eis que agora falas abertamente e não por parábolas. Agora
sabemos que sabes tudo e que não necessitas que alguém te interrogue. Por isto
cremos que vieste de Deus.”
🌿 Meditação Carmelita
Somos gerados pela Palavra…
“O próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus” (Jo 16,27).
Santa Teresa d’Ávila nos ensina que “a oração mental, a
meu ver, não é senão tratar de amizade com Aquele que sabemos que nos ama.”
Se somos gerados pela Palavra, é porque a Palavra nos deseja como filhos. A
oração é, portanto, um retorno filial ao útero do Verbo. Não se trata de
falar muito, mas de estar diante do Pai com o coração em chamas e o silêncio de
quem tudo espera.
Santa Elisabete da Trindade, que via a oração como “ser
habitada por Deus”, dizia:
“A alma recolhida, silenciosa, ouve no fundo do seu ser a Palavra Eterna que a gera continuamente para a luz.”
Essa geração não é pontual. É contínua, é fogo que nunca
dorme. Por isso, a oração, no Carmelo, não começa com pedidos, mas com
escuta, com presença consentida, com silêncio que gesta Deus.
…sustentados pela confiança
A confiança é a seiva da oração carmelita. Se a Palavra nos
gera, a confiança nos sustenta. Sem confiança, a alma reza como servo; com
confiança, reza como filho. Santa Teresinha fez disso seu evangelho pessoal:
“É a confiança e nada mais que nos deve conduzir ao Amor.”
Ela ousou chamar Deus de “Papai” quando tudo em sua vida
gritava ausência. E isso é profundamente carmelita. A alma orante do Carmelo
não é forte — é frágil e entregue. Santa Teresa Margarida Redi, a “Pequena
Teresa da Itália”, escreveu em seu leito de dor:
“Eu não tenho forças. Mas o Coração de Jesus me sustenta. Nele me escondo.”
Eis aí a escola carmelita: oração como escondimento no
Coração de Cristo, confiança como forma de viver a impotência,
pequenez como linguagem que o Pai entende. A oração que toca o Coração
do Pai é a que abandona a ilusão de merecer e se lança na certeza de ser
amado.
A oração dos pequenos que tocam o Coração do Pai
Quem são os pequenos? Aqueles que não negociam com Deus, que
não exigem sinais nem respostas rápidas, mas que se ajoelham dentro da alma e
dizem: “Pai, faça-se a tua vontade.” No Carmelo, a oração dos pequenos
não é passiva — é ardente, silenciosa e obediente. É o que Santa Maria
Madalena de Pazzi chamava de “oração inflamada no abandono”.
Esses pequenos, como Teresinha, como Teresa Margarida, como
Elisabete, tocam o Coração do Pai não com palavras, mas com a vida oferecida.
São orações vivas, mais do que vozes. São como brasas escondidas sob a cinza,
sustentando o mundo com sua fé calada.
Orar como carmelita é isso:
- não pedir para ser visto,
- não implorar por respostas humanas,
- mas viver da Palavra que gera
- e confiar no Pai que sustenta.
A oração verdadeira é como a infância: confia mesmo no
escuro.
📚 Referências Bibliográficas
- Santa
Teresa de Jesus, Livro da Vida, cap. 8-10.
- Santa
Teresinha do Menino Jesus, Manuscritos Autobiográficos, Caderno B.
- Santa
Teresa Margarida Redi, Cartas e Escritos Espirituais.
- Santa
Elisabete da Trindade, Últimos Retiro e Cartas.
- São
João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, nº 37.
- Bíblia
Sagrada (Vulgata Latina; Evangelho segundo João 16, Epístola de Tiago 1).