In Albis: A alma que saiu das águas veste Cristo
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Domingo in Albis — Oitava
da Páscoa e Primeiro depois da Páscoa
27 de abril de 2025
📖Proclamação do Evangelho (Missal de 1962)
Evangelho segundo São João (20, 19–31) Ao cair da
tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando as portas fechadas, onde os
discípulos se achavam por medo dos judeus, Jesus veio, pôs-Se no meio deles e
disse: “A paz esteja convosco.” E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. Jesus lhes disse outra vez: “A paz
esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio.” E, havendo dito
isso, soprou sobre eles, e disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem
perdoardes os pecados, serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, serão
retidos.” Ora, Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando
veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: “Vimos o Senhor!” Ele, porém,
respondeu-lhes: “Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos, e não puser o
meu dedo no lugar dos cravos, e não introduzir a minha mão no Seu lado, não
acreditarei.” Oito dias depois, estavam os discípulos novamente reunidos, e
Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-Se no meio e disse: “A
paz esteja convosco.” Depois disse a Tomé: “Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas
mãos; aproxima a tua mão e coloca-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas
crente.” Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Disse-lhe Jesus: “Creste
porque Me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” Jesus realizou
ainda muitos outros sinais na presença dos discípulos, que não estão escritos
neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e, crendo, tenhais a vida em Seu Nome.
🕯️ Meditação Carmelita
“In Albis: A alma que saiu das águas veste Cristo.” O Carmelo reconhece que a veste branca do batismo é mais que símbolo: é chamado à configuração com Cristo, é compromisso de eternidade. A alma que emerge das águas batismais não apenas renasce — ela se reveste do Esposo. Na liturgia tradicional, o Domingo in Albis marca o fim da oitava da Páscoa, mas não o fim da transformação interior. É o dia em que os neófitos depõem a túnica branca exterior, mas é também o dia em que a Igreja lhes diz: “Agora, veste Cristo por dentro, e jamais O despirá.”
No Carmelo, onde o batismo é vivido como oferta total, cada dia é um prolongamento deste domingo branco. A alma que se sabe consagrada já não busca mais o mundo, mas entra no castelo interior, onde o Ressuscitado vive em sua morada secreta. Santa Teresa d’Ávila nos convida a essa interioridade com extrema delicadeza: “É de grandíssima importância, para os que têm começado a ser servos de Deus, que procurem, desde o princípio, andar com grande delicadeza.” — Castelo Interior, Primeiras Moradas A veste branca não resiste ao barulho — ela se mancha com a pressa, com o ego, com o exteriorismo.
Por isso, a alma carmelita, mesmo vestida da luz da Páscoa, permanece pequena, silenciosa e fiel no amor. A túnica de Cristo não se compra — ela se recebe no silêncio e se guarda no amor. São João da Cruz aprofunda este mistério do revestimento espiritual: “Quanto mais uma alma se esvazia de tudo, mais se enche de Deus.” — Ditos de Luz e Amor, n. 64 A alma que saiu das águas, despojada de si, torna-se nuvem onde Deus repousa. Ela não vive mais de si, mas de Cristo que nela habita. Por isso, o Carmelo entende a fé de Tomé: ele não duvida, ele anseia tocar — e o Ressuscitado permite ser tocado, porque o amor quer se tornar carne. Santa Elisabeth da Trindade, mulher-eucaristia, traduz essa realidade: “Deus me marcou com o Seu selo, com o sinal de Seu amor. Vivo como uma hóstia escondida em Sua presença.” — Últimos Escritos A alma que veste Cristo torna-se imagem do Esposo Crucificado-Glorioso. Toca Suas chagas, não com medo, mas com veneração. E compreende que as feridas são as portas pelas quais entramos no Coração de Deus. A veste branca é a luz que sai do Lado aberto.
A mística carmelita não se satisfaz com ver — quer
permanecer. Não basta saber que Ele ressuscitou. O Carmelo deseja habitar
o Ressuscitado, fazer de Sua presença um sacrário interior. Neste
oitavo dia, o Carmelo recorda que: O batismo é entrada no mistério da Cruz e da
Glória. A fé verdadeira começa quando não se vê, mas se adora. A veste
não é visível, mas resplandece na alma que ama. A alma carmelita sai
das águas e entra no altar. Sai da fonte e entra no Coração Trespassado. Sai
do mundo e reveste-se da eternidade. “In Albis: a alma que saiu das águas
veste Cristo — e nunca mais se despe d’Ele.” Ela vive escondida com Cristo
em Deus. E seu silêncio é branco. Seu amor é Páscoa.
📚 Referências Bibliográficas
- Santa Teresa d’Ávila, Castelo Interior, 1ª Morada – Edições Loyola.
- São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, n. 64 – Edições Carmelo.
- Santa Elisabeth da Trindade, Últimos Escritos e Cartas – Carmelo de Dijon.
- Evangelho conforme o Missal Romano Tradicional (1962), tradução do Pe. Matos Soares.