In Albis: A alma que saiu das águas veste Cristo

"A Incredulidade de São Tomé", Caravaggio, c. 1601-1602. Óleo sobre tela.

Domingo in Albis — Oitava da Páscoa e Primeiro depois da Páscoa
27 de abril de 2025


📖Proclamação do Evangelho (Missal de 1962)

Evangelho segundo São João (20, 19–31) Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando as portas fechadas, onde os discípulos se achavam por medo dos judeus, Jesus veio, pôs-Se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco.” E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. Jesus lhes disse outra vez: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio.” E, havendo dito isso, soprou sobre eles, e disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, serão retidos.” Ora, Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: “Vimos o Senhor!” Ele, porém, respondeu-lhes: “Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não introduzir a minha mão no Seu lado, não acreditarei.” Oito dias depois, estavam os discípulos novamente reunidos, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-Se no meio e disse: “A paz esteja convosco.” Depois disse a Tomé: “Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e coloca-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.” Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Disse-lhe Jesus: “Creste porque Me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” Jesus realizou ainda muitos outros sinais na presença dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, crendo, tenhais a vida em Seu Nome.


🕯️ Meditação Carmelita

“In Albis: A alma que saiu das águas veste Cristo.” O Carmelo reconhece que a veste branca do batismo é mais que símbolo: é chamado à configuração com Cristo, é compromisso de eternidade. A alma que emerge das águas batismais não apenas renasce — ela se reveste do Esposo. Na liturgia tradicional, o Domingo in Albis marca o fim da oitava da Páscoa, mas não o fim da transformação interior. É o dia em que os neófitos depõem a túnica branca exterior, mas é também o dia em que a Igreja lhes diz: “Agora, veste Cristo por dentro, e jamais O despirá.” 

No Carmelo, onde o batismo é vivido como oferta total, cada dia é um prolongamento deste domingo branco. A alma que se sabe consagrada já não busca mais o mundo, mas entra no castelo interior, onde o Ressuscitado vive em sua morada secreta. Santa Teresa d’Ávila nos convida a essa interioridade com extrema delicadeza: “É de grandíssima importância, para os que têm começado a ser servos de Deus, que procurem, desde o princípio, andar com grande delicadeza.” — Castelo Interior, Primeiras Moradas A veste branca não resiste ao barulho — ela se mancha com a pressa, com o ego, com o exteriorismo

Por isso, a alma carmelita, mesmo vestida da luz da Páscoa, permanece pequena, silenciosa e fiel no amor. A túnica de Cristo não se compra — ela se recebe no silêncio e se guarda no amor. São João da Cruz aprofunda este mistério do revestimento espiritual: “Quanto mais uma alma se esvazia de tudo, mais se enche de Deus.” — Ditos de Luz e Amor, n. 64 A alma que saiu das águas, despojada de si, torna-se nuvem onde Deus repousa. Ela não vive mais de si, mas de Cristo que nela habita. Por isso, o Carmelo entende a fé de Tomé: ele não duvida, ele anseia tocar — e o Ressuscitado permite ser tocado, porque o amor quer se tornar carne. Santa Elisabeth da Trindade, mulher-eucaristia, traduz essa realidade: “Deus me marcou com o Seu selo, com o sinal de Seu amor. Vivo como uma hóstia escondida em Sua presença.” — Últimos Escritos A alma que veste Cristo torna-se imagem do Esposo Crucificado-Glorioso. Toca Suas chagas, não com medo, mas com veneração. E compreende que as feridas são as portas pelas quais entramos no Coração de Deus. A veste branca é a luz que sai do Lado aberto. 

A mística carmelita não se satisfaz com ver — quer permanecer. Não basta saber que Ele ressuscitou. O Carmelo deseja habitar o Ressuscitado, fazer de Sua presença um sacrário interior. Neste oitavo dia, o Carmelo recorda que: O batismo é entrada no mistério da Cruz e da Glória. A fé verdadeira começa quando não se vê, mas se adora. A veste não é visível, mas resplandece na alma que ama. A alma carmelita sai das águas e entra no altar. Sai da fonte e entra no Coração Trespassado. Sai do mundo e reveste-se da eternidade. “In Albis: a alma que saiu das águas veste Cristo — e nunca mais se despe d’Ele.” Ela vive escondida com Cristo em Deus. E seu silêncio é branco. Seu amor é Páscoa.


📚 Referências Bibliográficas

  • Santa Teresa d’Ávila, Castelo Interior, 1ª Morada – Edições Loyola.
  • São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, n. 64 – Edições Carmelo.
  • Santa Elisabeth da Trindade, Últimos Escritos e Cartas – Carmelo de Dijon.
  • Evangelho conforme o Missal Romano Tradicional (1962), tradução do Pe. Matos Soares.

Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância