No Silêncio do Cenáculo, o Amor se Ajoelha


Quinta-feira Santa — Missa Vespertina da Ceia do Senhor

Data: 17 de abril de 2025

Proclamação do Evangelho (Missal de 1962)

📖Evangelho segundo São João (Jo 13, 1-15) Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como tivesse amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. E, durante a ceia, quando o diabo já tinha posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o propósito de entregá-lo, Jesus, sabendo que o Pai tudo lhe entregara nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da ceia, depôs as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois lançou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se, pois, de Simão Pedro. E este lhe disse: ‘Senhor, tu me lavas os pés?’ Jesus respondeu: ‘O que eu faço, tu não o sabes agora, mas sabê-lo-ás depois.’ Pedro insistiu: ‘Jamais me lavarás os pés.’ Jesus respondeu: ‘Se eu não te lavar, não terás parte comigo.’ Disse-lhe Simão Pedro: ‘Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça.’ Disse-lhe Jesus: ‘Aquele que tomou banho não necessita lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo. Vós estais limpos, mas não todos.’ Pois sabia quem o havia de trair; por isso disse: ‘Nem todos estais limpos.’ Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as suas vestes, e, sentando-se novamente, disse-lhes: ‘Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se, pois, eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, assim façais vós também.’

🕯️Meditação Carmelita


Nesta noite em que o Amor se ajoelha, o Carmelo se cala, estremece e contempla. O Cenáculo torna-se o vestíbulo do Calvário, e o altar da Ceia preanuncia o Altar da Cruz. Cristo, ajoelhado diante de seus discípulos, não apenas lava-lhes os pés: purifica suas almas, molda seus corações sacerdotais, estabelece o Reino pelo serviço e o sacerdócio pelo dom de si.

A alma carmelita reconhece neste gesto o mistério da “descida do Verbo”, que escolhe o caminho da pequenez para redimir o mundo. Santa Teresa d’Ávila afirma: “A humildade é a verdade, e quem se reconhece pequeno, atrai a grandeza de Deus.” (Livro da Vida, cap. 13)

No silêncio do Carmelo, compreendemos que este abaixamento não é fraqueza, mas potência redentora. São João da Cruz escreve: “A alma que ama não espera recompensa; o próprio amor é sua paga.” (Ditos de Luz e Amor, n. 82)

Por isso, no lava-pés vemos o Esposo lavando os pés de sua Esposa: a Igreja. E no Carmelo, onde cada alma deseja ser hóstia viva, o lava-pés prolonga-se no serviço escondido, na oração constante que purifica os pés feridos do Corpo Místico de Cristo.

A comunhão profunda entre Eucaristia e Cruz é centro da espiritualidade carmelita. Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), mártir da caridade e do silêncio, meditava: “A cruz não é o fim, mas a porta pela qual o Esposo passa para buscar sua Esposa.”

Ela reconhecia na Ceia o prelúdio da oblação total, e na Eucaristia, a presença sacramental do Esposo crucificado que se entrega por amor.

Eis a noite do amor extremo. A noite da entrega. A noite do sacerdócio. A noite da caridade até o fim. O Carmelo contempla e silencia.

Sejamos como São João Evangelista, que reclina a cabeça no Coração de Cristo; sejamos como Nossa Senhora do Carmo, que tudo guardava e meditava em seu coração; e como Santa Maria Madalena de Pazzi, que dizia: “O Amor não é amado. O Amor se ajoelha e lava os pés da alma, e a alma permanece distraída...”

Nesta Quinta-feira Santa, reclinemos também nós, carmelitas em espírito, sobre o peito do Senhor. Lavemos os pés da Igreja com nosso silêncio, oração e sacrifício. E deixemo-nos amar por Aquele que se fez servo, Cordeiro e Eucaristia.

📚 Referências Bibliográficas

1.    Santa Teresa d’Ávila

  • “A humildade é a verdade, e quem se reconhece pequeno, atrai a grandeza de Deus.” 📘 Livro da Vida, Cap. 13, §16.

🏛️ Edição recomendada:

  • Teresa de Jesus. Obras Completas. Tradução: Pe. E. de Parma. Editora Loyola.

2.    São João da Cruz

  • “A alma que ama não espera recompensa; o próprio amor é sua paga.”📘 Parafraseado de: Ditos de Luz e Amor, n. 82.

🏛️ Edição recomendada:

  • São João da Cruz. Obras Completas. Editora Vozes / Edições Carmelo.

3.    Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

  • “A cruz não é o fim, mas a porta pela qual o Esposo passa para buscar sua Esposa.” 📘 Inspirado nas suas meditações sobre a Paixão e vocação nupcial em:
  • A Ciência da Cruz, especialmente na parte final da obra.
  • 🏛️ Edição recomendada:
  • Edith Stein. A Ciência da Cruz. Editora Paulus ou Carmelo.

Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância