Maria viu antes da aurora — e o Carmelo também
Domingo de Páscoa — Ressurreição do Senhor
20 de abril de 2025
📖Proclamação do Evangelho (Missal
de 1962)
Evangelho segundo São Marcos 16,
1–7
Tendo passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram
aromas para irem embalsamar Jesus. E, no primeiro dia da semana, muito cedo, ao
nascer do sol, foram ao sepulcro. Diziam entre si: “Quem nos há de remover a pedra
da entrada do sepulcro?” Mas, levantando os olhos, viram que a pedra tinha sido
removida. E era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado ao
lado direito, vestido com túnica branca; e ficaram atônitas. Ele lhes disse:
“Não vos assusteis. Buscais Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou! Não
está aqui. Vede o lugar onde o haviam posto. Mas ide, dizei a seus
discípulos e a Pedro que Ele vos precede na Galileia. Lá O vereis, como Ele vos
disse.”
🕯️Meditação Carmelita
“Maria viu antes da aurora — e o Carmelo também.” A Páscoa é o segredo dos que permaneceram, dos que amaram até o fim, dos que velaram a noite mesmo sem saber quando ela acabaria. Maria Madalena foi ao túmulo antes da aurora, não porque esperava uma resposta, mas porque o amor a impelia. Ela não suportava a distância. A dor a movia. E foi ali — no escuro da manhã, no escuro do coração — que ela viu primeiro. Assim é o Carmelo. Ele não corre, não exige sinais, não precisa compreender. Ele ama no escuro. E é por isso que vê a luz antes que ela surja. Santa Teresa d’Ávila, mestra da fidelidade dolorosa, nos adverte: “Quem ama verdadeiramente a Deus, não espera menos que a cruz... mas também não deve temer menos que a glória.”
A alma carmelita não vive de consolos — vive de fé. E por isso, quando a glória vem, ela reconhece o Ressuscitado no jardim onde antes derramou lágrimas. São João da Cruz descreveu essa experiência: “De noite, sem outra luz nem guia, senão a que no coração ardia.” O Carmelo é essa noite. A luz que arde é a caridade. É ela que leva a alma até o sepulcro com perfumes, sem saber que já está vazio. E ao chegar, a alma ouve: “Ressuscitou.” Santa Elisabeth da Trindade, agora canonizada e venerada como santa do recolhimento, dizia: “Tudo passa, só o Eterno permanece. Ele me busca e me transforma no silêncio.” Ela compreendeu que a Ressurreição não é um grito: é um sussurro eterno no coração que se deixa transformar.
O Carmelo, que cultivou o silêncio do Sábado,
acolhe a Ressurreição como quem acolhe um hóspede esperado — em paz, em oração.
Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), cuja cruz foi o campo de
extermínio, sabia: “A Cruz é a porta. Mas o amor é quem a abre.” Hoje,
essa porta se abriu. E quem amou com Ela — com Maria — entra na vida
nova, com os pés ainda feridos pela noite, mas com os olhos iluminados pela
vitória. O Carmelo não explica a Ressurreição. Ele a vive. Ele
não a proclama com discursos, mas com uma vida que canta Aleluia mesmo em
silêncio. A pedra foi rolada. O Cordeiro ressuscitou. E os
que guardaram a fé na noite, agora veem o dia. Maria viu antes da
aurora. E o Carmelo também — porque amou no escuro. E agora,
canta com a luz.
📚 Referências Bibliográficas
- Santa Teresa d’Ávila, Caminho de Perfeição e Castelo Interior, Edições Loyola.
- São João da Cruz, Cântico Espiritual e Noite Escura da Alma, Edições Carmelo.
- Beata Isabel da Trindade, Últimos Escritos, Carmelo de Dijon.
- Santa Teresa Benedita da Cruz, A Ciência da Cruz, Paulus.
- Evangelho segundo o Missal Romano Tradicional (1962), tradução do Pe. Matos Soares.
Carmelita Secular da Antiga Observância