Quando Deus cala, o Carmelo escuta
Sábado Santo — Vigília da
Espera
19 de abril de 2025
📖Proclamação do Evangelho (Missal de 1962)
Evangelho segundo São Mateus (28, 1–7) Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houve um grande terremoto: pois um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Seu aspecto era como o relâmpago, e sua veste, branca como a neve. Os guardas, tomados de pavor, ficaram como mortos. O anjo disse às mulheres: “Não temais. Sei que buscais Jesus, o crucificado. Ele não está aqui, pois ressuscitou, como havia dito. Vinde ver o lugar onde jazia, e ide depressa dizer aos seus discípulos que Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós à Galileia. Lá O vereis. Eis o que vos anuncio.”
🕯️Meditação Carmelita
“Quando Deus cala, o Carmelo
escuta.” No Sábado Santo, o Céu se cala. O Verbo que falou nas montanhas, que
curou com a palavra, que silenciou tempestades, agora permanece mudo no
sepulcro. E esse silêncio é denso — não de ausência, mas de mistério. É o
silêncio da promessa que ainda não se cumpriu. É o silêncio do Amor que parece
vencido. É o silêncio de Deus — e o Carmelo foi preparado para esse silêncio.
O Carmelo não exige sinais. Ele
crê. Ele é a casa do recolhimento, o claustro da confiança, o jardim do
invisível. No mundo que pergunta “onde está Deus?”, o Carmelo responde: “Está
no silêncio. Está na espera. Está no sepulcro.”
Santa Teresa d’Ávila, mestra do
abandono, ensinava: “A paciência tudo alcança.” E é disso que se trata
este dia: da paciência do amor, da fidelidade sem luz, da oração que permanece
mesmo quando o Esposo está oculto. O Carmelo vive, no Sábado Santo, a sua mais
pura vocação: amar sem ver, crer sem tocar, confiar sem compreender. Este é o
tempo da Virgem Maria, Mãe do Carmelo. Só ela, entre todos, conservou a chama
da fé acesa durante a noite da morte. Ela não viu o Ressuscitado ainda. Mas
acreditou. Ela não foi ao túmulo. Ela guardou o sepulcro em seu coração. Ao
lado de Maria, o Carmelo permanece de pé, como uma sentinela no escuro. Não se
agita. Não exige. Permanece. São João da Cruz, doutor do silêncio, dizia: “O
mais puro sofrimento atrai a mais pura sabedoria de Deus.”
E é isso que faz a alma
carmelita neste dia: aceita o sofrimento da espera, não como um castigo, mas
como escola de confiança, onde o coração aprende a repousar mesmo na ausência.
Santa Elisabet da Trindade, flor do silêncio interior, disse com clareza: “O
silêncio é o espaço onde Deus repousa.” Hoje, o Carmelo é esse espaço: um
sepulcro interior onde a fé repousa e a esperança germina no escuro, como a
semente sob a terra. Santa Maria de Jesus Crucificado (Mariam Baouardy),
mística das chagas escondidas, sussurrava: “O sofrimento aceito em silêncio
é como um beijo escondido de Jesus.” Hoje é o dia desse beijo. O beijo do
silêncio. O beijo do Esposo adormecido. O Carmelo não tenta abrir o túmulo. Ele
não se apressa em correr ao amanhecer. Ele escuta.
Escuta o que o mundo não ouve: –
O sussurro da Ressurreição preparando-se. – O estremecer da pedra antes de
rolar. – O eco das promessas ditas em silêncio. O mundo se agita, mas o Carmelo
escuta. Escuta o silêncio da Redenção, o eco da fidelidade, o prelúdio da
vitória. Hoje, o Carmelo permanece no Sábado. Mas já escuta o Domingo.
📚 Referências Bibliográficas
Santa Teresa d’Ávila, Caminho de
Perfeição, cap. 18. Edições Loyola.
São João da Cruz, Subida do
Monte Carmelo, Livro II. Edições Carmelo / Vozes.
Beata Isabel da Trindade,
Escritos espirituais. Carmelo de Dijon.
Santa Maria de Jesus Crucificado
(Mariam Baouardy), ditos espirituais. Carmelo de Belém.
Evangelho conforme o Missal
Romano Tradicional (1962), tradução de Pe. Matos Soares.
Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância