Quando Deus cala, o Carmelo escuta


Imagem: Rembrandt van Rijn, Christ and St Mary Magdalen at the Tomb, 1638. Royal Collection Trust. Fonte: Google Arts & Culture.

Sábado Santo — Vigília da Espera
19 de abril de 2025


📖Proclamação do Evangelho (Missal de 1962)

Evangelho segundo São Mateus (28, 1–7) Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houve um grande terremoto: pois um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Seu aspecto era como o relâmpago, e sua veste, branca como a neve. Os guardas, tomados de pavor, ficaram como mortos. O anjo disse às mulheres: “Não temais. Sei que buscais Jesus, o crucificado. Ele não está aqui, pois ressuscitou, como havia dito. Vinde ver o lugar onde jazia, e ide depressa dizer aos seus discípulos que Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós à Galileia. Lá O vereis. Eis o que vos anuncio.”

🕯️Meditação Carmelita


“Quando Deus cala, o Carmelo escuta.” No Sábado Santo, o Céu se cala. O Verbo que falou nas montanhas, que curou com a palavra, que silenciou tempestades, agora permanece mudo no sepulcro. E esse silêncio é denso — não de ausência, mas de mistério. É o silêncio da promessa que ainda não se cumpriu. É o silêncio do Amor que parece vencido. É o silêncio de Deus — e o Carmelo foi preparado para esse silêncio.

O Carmelo não exige sinais. Ele crê. Ele é a casa do recolhimento, o claustro da confiança, o jardim do invisível. No mundo que pergunta “onde está Deus?”, o Carmelo responde: “Está no silêncio. Está na espera. Está no sepulcro.”

Santa Teresa d’Ávila, mestra do abandono, ensinava: “A paciência tudo alcança.” E é disso que se trata este dia: da paciência do amor, da fidelidade sem luz, da oração que permanece mesmo quando o Esposo está oculto. O Carmelo vive, no Sábado Santo, a sua mais pura vocação: amar sem ver, crer sem tocar, confiar sem compreender. Este é o tempo da Virgem Maria, Mãe do Carmelo. Só ela, entre todos, conservou a chama da fé acesa durante a noite da morte. Ela não viu o Ressuscitado ainda. Mas acreditou. Ela não foi ao túmulo. Ela guardou o sepulcro em seu coração. Ao lado de Maria, o Carmelo permanece de pé, como uma sentinela no escuro. Não se agita. Não exige. Permanece. São João da Cruz, doutor do silêncio, dizia: “O mais puro sofrimento atrai a mais pura sabedoria de Deus.”

E é isso que faz a alma carmelita neste dia: aceita o sofrimento da espera, não como um castigo, mas como escola de confiança, onde o coração aprende a repousar mesmo na ausência. Santa Elisabet da Trindade, flor do silêncio interior, disse com clareza: “O silêncio é o espaço onde Deus repousa.” Hoje, o Carmelo é esse espaço: um sepulcro interior onde a fé repousa e a esperança germina no escuro, como a semente sob a terra. Santa Maria de Jesus Crucificado (Mariam Baouardy), mística das chagas escondidas, sussurrava: “O sofrimento aceito em silêncio é como um beijo escondido de Jesus.” Hoje é o dia desse beijo. O beijo do silêncio. O beijo do Esposo adormecido. O Carmelo não tenta abrir o túmulo. Ele não se apressa em correr ao amanhecer. Ele escuta.

Escuta o que o mundo não ouve: – O sussurro da Ressurreição preparando-se. – O estremecer da pedra antes de rolar. – O eco das promessas ditas em silêncio. O mundo se agita, mas o Carmelo escuta. Escuta o silêncio da Redenção, o eco da fidelidade, o prelúdio da vitória. Hoje, o Carmelo permanece no Sábado. Mas já escuta o Domingo.

📚 Referências Bibliográficas

Santa Teresa d’Ávila, Caminho de Perfeição, cap. 18. Edições Loyola.

São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro II. Edições Carmelo / Vozes.

Beata Isabel da Trindade, Escritos espirituais. Carmelo de Dijon.

Santa Maria de Jesus Crucificado (Mariam Baouardy), ditos espirituais. Carmelo de Belém.

Evangelho conforme o Missal Romano Tradicional (1962), tradução de Pe. Matos Soares.

Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância