Deus prepara o Banquete, mas os convidados têm outras prioridades
2º Domingo depois de Pentecostes
22 de junho de 2025
✨ Introdução
Neste 2º Domingo depois de Pentecostes, a liturgia nos convida a encarar um drama profundo — e, ao mesmo tempo, bem cotidiano. É o drama de um coração que, em silêncio, vai rejeitando o Banquete que Deus preparou com tanto amor. A mesa está posta. O Cordeiro foi imolado. O convite é pessoal, direto, cheio de ternura... mas, mesmo assim, muitos corações estão ocupados demais.
Tem o campo, tem os negócios, tem os afetos desordenados. Tudo parece mais urgente do que o Reino. E aí, no Evangelho de hoje, Cristo não alivia: muitos são chamados, mas poucos aceitam de verdade. As desculpas? Polidas, educadinhas até. Mas, por trás delas, esconde-se algo sério — a recusa do próprio Amor.
E o Banquete... não espera pra sempre. A alma que adia, que empurra com a barriga, corre um risco imenso: o de perder aquilo que foi preparado pra ela desde toda a eternidade.
📜 Evangelho segundo São Lucas 14, 16-24 — Tradução de 1957, Missal Gregoriano-Romanum
🌿 MEDITAÇÃO CARMELITA
A alma que não tem fome de Deus… já se alimentou de si mesma.
E nada sacia menos… do que o ego.
A parábola do Banquete denuncia uma das tragédias mais sutis da vida espiritual:
quando o coração se acomoda em distrações legítimas — o trabalho, os laços
afetivos, os deveres terrenos — e os transforma em trincheiras contra a graça.
Deus não chama apenas os “puros”.
Ele chama os ocupados.
Chama os cheios de compromissos.
Os cheios de si.
Mas a resposta é quase sempre a mesma: “Agora não.”
Santa Teresa de Jesus,
com aquela clareza abrasadora que só ela tem, diz:
“O Senhor não se dá por inteiro à alma que ainda deseja muito o que é da terra.” (Caminho de Perfeição, cap. 11)
A recusa do convite não é só má educação espiritual.
É idolatria disfarçada.
Preferimos nossos campos, bois e afetos… a Cristo.
E isso faz tremer os fundamentos da alma.
São João da Cruz adverte
com precisão cirúrgica:
“A alma que está apegada a uma só criatura — por pouco que seja — não chegará à liberdade da união divina.” (Ditos de Luz e Amor, n. 81)
E quando o convite é recusado…
Deus sai. Vai. Busca.
Os pobres. Os doentes.
Aqueles que não têm outra prioridade senão… sobreviver.
É neles que o Banquete encontra espaço.
Porque é no coração pobre, esvaziado, que Deus se serve.
Santa Maria Madalena de
Pazzi, em êxtase profundo, gritava:
“O Amor não é amado!
O Amor não é amado!”
Essa é a dor que este Evangelho revela:
Deus ama primeiro.
Convida. Prepara…
E é ignorado.
O Banquete está pronto.
A recusa tem consequências eternas.
O Carmelo nos ensina:
O coração orante é o que vive em estado de prontidão.
É o servo vigilante.
O amigo do Esposo.
A esposa que ouve o chamado do Amado…
e deixa tudo, pra correr ao Seu encontro.
“É necessário que abandonemos tudo que não é Deus,
para que Ele seja tudo em nós.”
— Santa Teresa Margarida Redi do Sagrado Coração
Não se trata de correr atrás de experiências místicas.
Mas de responder ao Amor… com amor.
Quem adia a resposta… perde o Esposo.
Quem prefere a própria agenda… perde o Reino.
📚 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Evangelho segundo São Lucas
14, 16-24, versão tradicional do Missal Romano de 1957.
Santa Teresa de Jesus, Caminho
de Perfeição, ed. Vozes.
São João da Cruz, Ditos de Luz
e Amor, ed. Loyola.
Santa Maria Madalena de Pazzi, Exortações
e Êxtases, ed. OCD.
Santa Teresa Margarida Redi, Escritos Espirituais, ed. Teresianum.