A justiça que nasce da chama interior

5º Domingo depois de Pentecostes
13 de julho de 2025
No Carmelo, aprendemos que Deus não se agrada de sacrifícios
formais, mas de corações inflamados de caridade. Neste 5º Domingo depois de
Pentecostes, o Evangelho nos revela uma justiça que ultrapassa os códigos e se
enraíza no fogo do amor reconciliador. Não basta evitar o homicídio; é preciso
matar a ira. Não basta oferecer no altar; é preciso oferecer-se com um coração
reconciliado. O altar de Deus exige pureza interior. E é no silêncio carmelita,
onde a chama de Deus arde sem ruído, que esta justiça começa a nascer.
📖 Evangelho (Missal de 1962 – Mt 5, 20-24)
✠ Sequéntia sancti Evangélii
secúndum Matthǽum.
Naquele tempo, Disse Jesus a seus discípulos: Se a vossa justiça
não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no reino dos Céus.
Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, e quem matar será condenado
em juízo. Pois eu digo-vos que todo aquele que se irar contra seu irmão, será
condenado em juízo. E o que lhe chamar raca[1]
a seu irmão, será condenado no conselho e o que lhe chamar louco, será
condenado ao fogo da Geena. Portando, se estás para fazer a tua oferta diante
do altar, e te lembrares aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá
a tua oferta diante do altar, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e
depois vem fazer a tua oferta.
🌾 Meditação Carmelita
A justiça que Deus exige não é a dos códigos exteriores, mas
a que floresce das cinzas da própria ira consumida. No Carmelo, essa verdade
arde como uma lâmpada oculta: só é agradável a Deus o coração que já foi
queimado pelo fogo da caridade. Não é a letra que salva, mas o Espírito — e
este sopra no interior da alma como uma brisa sutil, abrasando sem fazer
barulho.
Santa Teresa de Jesus dizia: “A humildade é o fogo que
consome toda hipocrisia.” E neste Evangelho, vemos que Cristo vai ao âmago
da hipocrisia farisaica. Não basta parecer justo: é preciso sê-lo diante do
olhar de Deus. E o olhar de Deus repousa no coração. Os fariseus eram
impecáveis no rito, mas podres no trato. Eram fiéis à liturgia, mas infiéis à
caridade.
São João da Cruz nos adverte: “No entardecer da vida,
seremos julgados no amor.” Que amor há em um coração que sobe ao altar, mas
carrega mágoa contra o irmão? No Carmelo, onde o altar é a própria alma, não há
espaço para oferendas manchadas de ressentimento. A verdadeira justiça é
reconciliadora, pacificadora, interior. Ela exige descer do pedestal e
ajoelhar-se ao lado de quem ferimos — ou de quem nos feriu.
Santa Maria Madalena de Pazzi vivia em contínua vigilância
da língua e dos pensamentos, sabendo que um juízo precipitado já é uma espécie
de assassinato espiritual. No silêncio do Carmelo, a alma aprende que falar mal
é incendiar pontes; calar-se em caridade é construir altares.
O altar do Carmelo não aceita fogo estranho. Só o fogo do
amor reconciliado — como o de Elias no Carmelo — é capaz de consumir a oferta e
fazer descer o Deus vivo.
Portanto, antes de te aproximares do altar, seja ele de
pedra ou do teu coração em oração, pergunta: “Estou em paz com todos?” Se a
resposta for não, vai primeiro ao irmão. Não com discursos, mas com humildade.
Não com argumentos, mas com o Espírito que arde e pacifica. E então tua
oferenda subirá como incenso, aceito por Aquele que vê no secreto.
🌹Oração do 7º Dia da Novena de Nossa Senhora do Carmo
Amém.
📚 Referências bibliográficas
João da Cruz, São. Ditos de
Luz e Amor. OCD.
Maria Madalena de Pazzi, Santa. Cartas
Espirituais. Ed. Carmelitana.
Teresa de Jesus, Santa. Caminho
de Perfeição. Ed. Vozes.
Missale Romanum (1962).
Bíblia Sagrada, tradução de Matos
Soares (F. M. Soares, 1957).
Constituições dos Carmelitas
da Antiga Observância.
Escuela de Oración: Místicos
Carmelitas. OCD Ediciones.