A justiça que nasce da chama interior

Cristo diante de Pilatos, Nicodemo Ferrucci, 1616 e 1624.

5º Domingo depois de Pentecostes
13 de julho de 2025


No Carmelo, aprendemos que Deus não se agrada de sacrifícios formais, mas de corações inflamados de caridade. Neste 5º Domingo depois de Pentecostes, o Evangelho nos revela uma justiça que ultrapassa os códigos e se enraíza no fogo do amor reconciliador. Não basta evitar o homicídio; é preciso matar a ira. Não basta oferecer no altar; é preciso oferecer-se com um coração reconciliado. O altar de Deus exige pureza interior. E é no silêncio carmelita, onde a chama de Deus arde sem ruído, que esta justiça começa a nascer. Estamos no 7º dia da novena à Nossa Senhora do Carmo, no Mãe, nossa Irmã e Guardiã do Carmelo. Que ela nos conduza ao centro silencioso onde Cristo nos espera.

📖 Evangelho (Missal de 1962 – Mt 5, 20-24)

Sequéntia sancti Evangélii secúndum Matthǽum.

Naquele tempo, Disse Jesus a seus discípulos: Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, e quem matar será condenado em juízo. Pois eu digo-vos que todo aquele que se irar contra seu irmão, será condenado em juízo. E o que lhe chamar raca[1] a seu irmão, será condenado no conselho e o que lhe chamar louco, será condenado ao fogo da Geena. Portando, se estás para fazer a tua oferta diante do altar, e te lembrares aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem fazer a tua oferta.

🌾 Meditação Carmelita

A justiça que Deus exige não é a dos códigos exteriores, mas a que floresce das cinzas da própria ira consumida. No Carmelo, essa verdade arde como uma lâmpada oculta: só é agradável a Deus o coração que já foi queimado pelo fogo da caridade. Não é a letra que salva, mas o Espírito — e este sopra no interior da alma como uma brisa sutil, abrasando sem fazer barulho.

Santa Teresa de Jesus dizia: “A humildade é o fogo que consome toda hipocrisia.” E neste Evangelho, vemos que Cristo vai ao âmago da hipocrisia farisaica. Não basta parecer justo: é preciso sê-lo diante do olhar de Deus. E o olhar de Deus repousa no coração. Os fariseus eram impecáveis no rito, mas podres no trato. Eram fiéis à liturgia, mas infiéis à caridade.

São João da Cruz nos adverte: “No entardecer da vida, seremos julgados no amor.” Que amor há em um coração que sobe ao altar, mas carrega mágoa contra o irmão? No Carmelo, onde o altar é a própria alma, não há espaço para oferendas manchadas de ressentimento. A verdadeira justiça é reconciliadora, pacificadora, interior. Ela exige descer do pedestal e ajoelhar-se ao lado de quem ferimos — ou de quem nos feriu.

Santa Maria Madalena de Pazzi vivia em contínua vigilância da língua e dos pensamentos, sabendo que um juízo precipitado já é uma espécie de assassinato espiritual. No silêncio do Carmelo, a alma aprende que falar mal é incendiar pontes; calar-se em caridade é construir altares.

O altar do Carmelo não aceita fogo estranho. Só o fogo do amor reconciliado — como o de Elias no Carmelo — é capaz de consumir a oferta e fazer descer o Deus vivo.

Portanto, antes de te aproximares do altar, seja ele de pedra ou do teu coração em oração, pergunta: “Estou em paz com todos?” Se a resposta for não, vai primeiro ao irmão. Não com discursos, mas com humildade. Não com argumentos, mas com o Espírito que arde e pacifica. E então tua oferenda subirá como incenso, aceito por Aquele que vê no secreto.

🌹Oração do 7º Dia da Novena de Nossa Senhora do Carmo

Mãe da Paz ardente, Senhora do Silêncio reconciliador,
neste sétimo dia da novena, quando o Evangelho nos pede justiça que nasce do fogo interior, voltamo-nos a Ti,
Virgem do Monte, onde se queima a ira e floresce a caridade.

Ensina-nos a descer do altar do orgulho
e a subir o monte da reconciliação.
Purifica em nós a língua, o coração, o gesto e o pensamento.
Que o nosso culto não seja vaidade, mas oferta pura, como Tu o foste,
oferecendo o Filho no altar da Cruz.

Acende em nossos corações o zelo do Profeta Elias,
mas banhado na mansidão do Cordeiro.
Faz-nos almas justas, não por mérito legalista,
mas por termos sido abrasados pela Tua presença.

Ó Flor do Carmelo,
dá-nos a graça de viver reconciliados,
para que, ao subirmos ao altar,
levemos também contigo ao Céu
a paz dos irmãos que amamos
e o silêncio que cultiva a justiça de Deus.

Amém.

Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância

📚 Referências bibliográficas

João da Cruz, São. Ditos de Luz e Amor. OCD.

Maria Madalena de Pazzi, Santa. Cartas Espirituais. Ed. Carmelitana.

Teresa de Jesus, Santa. Caminho de Perfeição. Ed. Vozes.

Missale Romanum (1962).

Bíblia Sagrada, tradução de Matos Soares (F. M. Soares, 1957).

Constituições dos Carmelitas da Antiga Observância.

Escuela de Oración: Místicos Carmelitas. OCD Ediciones.

  


[1] Raca: pessoa insignificante, idiota, “cabeça oca”.

Nota: se desejar acompanhar a Novena à Nossa Senhora do Carmo, acesse o aqui.